'Escorpião' é o segundo álbum do Godasadog

O novo trabalho do Godasadog é venenoso. A dupla formada por Victor Meira (também da Bratislava) e pelo produtor Matschulat traz um tom obscuro, que remete a aquele sentimento de infância distorcida. Produzido totalmente à distância, com Victor em São Paulo e Matschulat em Londres, o disco foi criado num processo de "ping-pong" em meio a inúmeras reuniões online.

“Algumas músicas foram compostas e gravadas em 2014, outras agora em 2016. Dentro do universo de cada música tem lapsos temporais e diálogos estranhos entre o eu do passado e o eu do presente”, explica Victor Meira.

O lançamento do disco procede o álbum “Hoje”, lançado em 2013, que levou a dupla a se apresentar no festival Converse Rubber Tracks, realizado no Cine Jóia, em São Paulo, onde  tocaram ao lado de artistas como Chromeo, Busta Rhymes, Dinosaur Jr e Chet Faker.

“Acredito que o Godasadog é vanguardista dentro de seu ambiente, carrega aspectos estéticos e conceituais que desafiam valores e noções dominantes de como nos engajamos com a música”, explica Adam.

A habitual poesia e o enigmático que se destacam nas composições de Victor também estão no projeto. Músicas como “Festa” e “Trauma” chamam atenção por suas temáticas herméticas, que trazem mensagens difusas e incentivam o ouvinte a descobrir as intenções guardadas nas palavras. A cada nova ouvida, as figuras vão surgindo e sumindo, como se um cenário fosse montado. Como compositor, Victor trabalha muito mais que sensações - ele busca o sonho, a confusão, em suas obras.

Já as canções “Infância” e “Escuridão” são literais. Contam histórias com linhas narrativas lineares, convidam o outro para o seu mundo. Porém, não se engane: a temática continua ácida. “Infância” conta sobre os amigos de infância que permaneceram na igreja, na religião dos pais, do berço. Já “Escuridão” fala de medo com um tom idílico, metafórico, impreciso. 

Godasadog é um obelisco, um sistema em torno de si mesmo. O duo abraça sua vocação de anagrama e mostra que, não importa de que ângulo se olhe, essa improvável ponte transatlântica construiu uma identidade e unidade sonora cheia de nuances.

Ouça o álbum: