Desde a metade do século passado, quando os brancos resolveram misturar umas guitarras dançantes ao flow do blues acústico feito pelos negros, o famigerado ritmo conhecido como Rock and Roll então criado dominou as rádios, as pistas, a cultura e a vida de milhões e milhões de pessoas pelo mundo. Não há dúvidas de que o estilo é o maior e mais influente dentro de todo o universo da música e, talvez, jamais deixe de ocupar este posto. Mas um gênero que já viveu tanta coisa e vem arrastando multidões por tantos anos, uma hora precisa descansar - e conseguir um substituto.
Em paralelo ao movimento mundial do rock, que fez os EUA ferver nos anos 1970, um outro universo tomava forma do outro lado da cidade na mesma época. O hip hop nasceu das ruas e da vontade de colocar pra fora as críticas sobre a realidade que a galera da periferia vivia - também usando o rock como grande influência. Enquantos os brancos moravam no centro, usavam jaqueta de couro e compravam LPs pra ouvir o tal do rock, a negritude dos bairros pobres de Nova York fazia suas rimas sobre as verdades ignoradas pela sociedade e usava os mesmos discos de vinil pra dar o ritmo. E assim, os dois maiores movimentos culturais do mundo nasceram e coexistiam em dois mundos diferentes.
Depois de décadas, o ano é 2017 e, pela primeira vez na história da música, o rock não é o estilo mais ouvido dos EUA. E adivinha quem tomou o lugar dele? Ele mesmo, o hip hop. Na análise do primeiro semestre do ano feita pela Nielsen Music, R&B/Hip Hop representa mais de 25% do consumo musical nas terras de Donald Trump. É a primeira vez que o estilo lidera a lista, mesmo com toda sua força cultural. Já o rock, que sempre foi o dono supremo desse chart, levou 23% do consumo. Estes dados são medidos pela soma de vendas de álbuns físicos, álbuns on line, reproduções pelos serviços de streaming, views em clipes e o que mais gerar números pras músicas. Mais de 30% das músicas consumidas pelos americanos nos últimos 6 meses por plataformas como Spotify são R&B/Hip Hop, enquanto 18% são rock e 13% são pop.
A explicação pra essa reviravolta musical é bem simples: enquanto os clássicos bons álbuns do rock deixaram de sair há anos, o hip hop não para de crescer e de encabeçar os charts a cada música lançada. Desde o início de 2017, o consumo americano do gênero aumentou 17% somando quase 60 milhões de vendas dos discos que foram lançados até agora.
A faixa mais vendida desde que o ano começou se encontra no setor R&B, se chama “That’s What I Like” e pertence ao Bruno Mars, que é apenas um dos grandes caras que lançaram discos em 2017 e colocaram (bastante) lenha na fogueira do hip hop. Não podemos fazer este texto sem citar Kendrick Lamar e seu disco “DAMN.”, que liderou as vendas dentro do estilo com 1,77 milhão de unidades comercializadas e uma estreia diretamente no topo da Billboard 200. Atrás dele vem Drake com o “More Life”, Bruno Mars com “24K Magic”, o Migos com o “CULTURE”, The Weeknd com “Starboy”, Future com “Future” e “HNDRIXX” e ainda sobrou lugar pro “Views” do Drake, que continua somando dados mesmo lançado em 2016. Nem precisamos dizer que estes foram os lançamentos musicais mais ovacionados do ano e você nem precisa ser fã de rap pra sacar isso. E você nem precisa ser fã de rock pra perceber que, infelizmente, 2017 não trouxe nenhum grande lançamento dentro do estilo - pelo menos não dentro do topo das paradas - e nem os anos anteriores. O máximo que se chegou foi em artistas que flertam com o rock, como Coldplay, twenty one pilots e Imagine Dragons.
Além dos grandes nomes do rap e de seus lançamentos estrondosos, a nova geração vem representando de uma forma que o rock moderno não chega nem perto. “Novatos” como Kyle, Lil Uzi Vert, Bryson Tiller, Travis Scott, Stormzy - e mais uma lista gigante de rappers que tão se criando e mostrando muito talento - tão mantendo vivo o legado de Grandmaster Flash, Afrika Bambaataa, Wu-Tang Clan, Tupac, Notorious B.I.G e N.W.A. e completam os plays que fizeram 2017 ser oficialmente o ano do hip hop. Se você ainda tinha alguma dúvida de que o rap é o novo rock, é só voltar ali no meio do texto, reler os números e refletir sobre quem tá mais ativo no rolê todo.
Texto por Daniela Barbosa
Via: Topsify Brazil
A Era do Rap! O R&B e o Rap estão vendendo mais que o Rock nos EUA
Reviewed by VI$H MEDIA
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15 julho
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