A transição de Matheus a Coringa: 'PANE' é um soar intrépido sobre a subversão do hip-hop e do Brasil

Arte da capa: Eduardo da Matta e Dara Meana
Matheus Coringa acaba de divulgar "PANE", faixa bônus do seu próximo álbum visual em colaboração com o beatmaker mexicano Gordo Jazz"El Torto", que será lançado no verão de 2020. O som chegou pesado com um audiovisual subversivo em formato stop motion analógico, criado com mais de 4500 fotos. A mix/master ficou por conta de Ogrow Beats, a direção e design do clipe por Eduardo da Matta, Mateus Cony e Dara Meana. Confira: 


Que Matheus Coringa é um dos mais sujos da cena todo mundo sabe (ou deveria saber), mas o lançamento de "PANE" mostra que o rapper não se limita a isso. Coringa nunca foi apenas mais um que rima sem propósito. Seus trabalhos nascem pela anti-heroicidade, brotam firmes nas falas rasgadas e ascendem sem devaneios ideias nem sempre defendidas no mundo do rap. 

O clipe de "PANE" traz à tona a transição de Matheus a Coringa, o homem que sai do desvio comum para o caos da subversão por meio de reflexos da realidade. O ponto, aqui, é o anti-discurso. Ele não veio pra falar do que você gosta, mas do que você precisa ouvir no rap. "A cena tá mais feia que bater em mãe" é a line que desde já te coloca no cantinho pra pensar.

Foto: Eduardo da Matta
O hip-hop precisa ser entendido como uma das fontes mais importantes de alerta, e andam ignorando a sua força política na atualidade. Coringa veio pra mostrar que o hip-hop também é político e os seus não entendedores colaboram para a propagação de discursos banais, sem profundidade de pensamento. "Seja inimigo também" aparece em uma das colagens do clipe, ressaltando a tomada de atitude de Matheus Coringa ao falar sobre o contexto atual no Brasil sem meias-verdades, mesmo em uma época contaminada por inteiras mentiras. 

"PANE" é o soar intrépido sobre a subversão do hip-hop e do Brasil. O som traz o resgate da força motora do rap, aquela que leva aos ouvintes a lembrança do esquecimento. O que você anda ouvindo? Como consome rap? Lembra do que te levou a ouvir? Lembra por que começou a fazer? Tá vendo o que tá acontecendo?

Foto: Eduardo da Matta
Coringa já afirmou antes, "pode fazer até fila, o underground predomina", e "PANE" reforça isso ao exaltar uma falha no sistema tanto na política quanto no rap. Ele se alimenta do rompimento da inércia para defender a tomada de posição, mesmo que seja uma anti-postura. Makalister dizia "Quem foge é fraco ou visionário, quem vai dizer?", Coringa chega martelando e nos faz pensar: e quem não foge, é herói ou inimigo, você consegue dizer? 

"PANE" agrega todos os elementos de uma boa produção: sonoridade transgressora com um instrumental reverberado e turbulento de Gordo Jazz, lírica afiada e lapidada no estilo autêntico de Coringa, estética inovadora e cativante e uma produção impecável de Eduardo da Matta, Mateus Cony e Dara Meana que faz do clipe um verdadeiro primor de originalidade para a época em que as pessoas escutam com os olhos e pensam com os ouvidos, quando pensam.