O artista baiano Issa apresenta seu primeiro álbum, ouça "Ambush Bahia"


Andando em um caminho de muita luz, recebemos o artista Issa apresentando seu primeiro álbum de estúdio. O cantor, compositor e instrumentista baiano conta com referencias únicas encontradas, e explora uma junção de estilo como poucos, realizando uma experiência entre a sonoridade musical da Bahia e da Jamaica, unindo o reggae, ragga, rap, pop e o pagode baiano no álbum nomeado "Ambush Bahia"

O disco de estreia do artista apresenta uma leitura aprofundada da música baiana, com elementos das culturas bantu, levando consigo um forte influencia da ordem Rastafari, tendo a musicalidade nyahbinghi, que é um ritmo dos rastafáris jamaicanos como escape do projeto.

O material formado por nove faixas conta com colaborações de Má Reputação, Shalow Adonai, e o rapper Marcola. A produção do álbum é espetacular, contando com a participação de um time  de músicos composto por Ejigbo (Baixo), Felipe Pires (Piano Elétrico), Bruno Torres (Sax e Flautas), trazendo produção musical da Aquahertz e co-produção e guitarras por Mayale Pitanga.



Tivemos uma ideia super especial trocada com o artista. Confira abaixo:
VI$H: Como foi o processo criativo do álbum?  

ISSA: Saudações! Primeiramente gostaria de agradecer pelo espaço e desejar vida longa ao portal.. maneiro demais poder falar do primeiro disco aqui... Então, o processo criativo e de construção do álbum foi coletivo, mas basicamente surgiu de muitos brainstorms que tive com a Aquahertz (gravadora/coletivo) e  com Mayale Pitanga, guitarrista que co-produziu o disco. Pensei nesse processo criativo criar uma sonoridade junto com a galera que me remetesse à Bahia e à Jamaica, tanto nas idéias quanto na sonoridade, pra fazer as músicas nascerem eu improvisei um método que não tinha feito ainda nas minhas composições, recortei e colei as poesias que eu vinha escrevendo em cima de riddims e em duas utilizei o violão que é meu instrumento de origem.



VI$H: Queremos saber um pouco sobre sobre o seu primeiro disco, porque do título "Ambush Bahia"?
ISSA: Na busca de fazer um trampo que tivesse essa sonoridade baiana e também jamaicana teve um disco que foi fundamental nesse processo, que foi o "Bahia Jamaica" de Jorge Alfredo e Chico Evangelista, diz a lenda que esse disco tem o primeiro reggae gravado no Brasil. O disco tem uma sonoridade ampla, tem ijexá, reggae...esse disco foi lançado em 1980, e tem uma sonoridade muito particular da época..então esse disco me inspirou muito nesse corre, e eu já escutava ele antes mesmo de pensar em fazer o Ambush Bahia. Só que não dava pra dar o mesmo nome no meu álbum né (risos). Ai foi mais um tempo de esperar o nome aparecer, de trabalhar e ver o que o contexto sonoro do álbum iria dizer, mas logo nas primeiras faixas eu tive um insight assistindo o documentário "ReMastered: Who Shot the Sheriff" que trata da tentativa de assassinato de Bob Marley, e a canção "Ambush in the Night" foi escrita por Bob pra relatar essa emboscada que fizeram com ele. Quando ouvi novamente essa música, fiquei cantando o refrão durante dias..e achei a palavra "Ambush" boa demais, tanto na sonoridade quanto no significado. E ai tentei criar essa Emboscada Baiana com o "Ambush Bahia"

VI$H: Pretende lançar algum videoclipe do projeto? 


ISSA: Sim, lancei um clipe para esse álbum que é a versão acústica da música "Bonita" que tá no Youtube e tem direção de Gabriel Nogueira. Infelizmente devido a pandemia do coronavírus a produção dos outros clipes foi afetada, mas na melhor hora vai rolar.



VI$H: Você realiza uma união de ritmos únicos em "Ambush Bahia", quais foram inspiração para a composição do projeto? 


ISSA: É isso, dessa tentativa de busca de uma sonoridade que me remetesse às influências da música jamaicana e baiana eu acabei me deparando com semelhanças entre o samba de roda e o dancehall, nyahbinghi e ijexá, pagode, rap..tudo por uma questão de célula ritmica, o nyahbinghi, que não somente é um ritmo mas também uma ordem Rastafari com raízes em Uganda (África bantu) é influenciado também pelo ritmo ancestral da Kumina, essas manifestações culturais estão presentes em toda música da jamaica que se popularizou mundo afora, com uma batida de dois tempos que permanece até hoje na música que o Reino Unido só desenvolveu por influência dos jamaicanos. E ainda sobre a cultura da ordem Nyahbinghi, a primeira do movimento, existe um conceito filosófico chamado I and I, ou ainda Ihi Yanhn Ihi (Eu e Eu) que quer dizer que 'eu sou um com deus e com os outros', essa perspectiva espiritual bantu foi pra jamaica, e ainda na cultura bantu o conceito filosófico "Ubuntu" quer dizer algo muito parecido, que é uma contração do provérbio "Umuntu Ngamuntu Ngabantu" em tradução " Uma pessoa se torna uma pessoa através de outras pessoas". Então I and I nesse sentido, e defendo, é uma perspectiva de renascimento africano na cultura jamaicana que foi formada em grande número por africanos bantu, assim como no Brasil e muito na Bahia. Então eu acredito que os povos bantu pelas diásporas têm esse fio condutor cultural de uma unidade africana que fica latente nas manifestações culturais, é só procurar que acha.

VI$H: Os músicos que colaboraram com a parte instrumental do projeto ditaram um ritmo único, como foi trabalhar com essa galera? 

ISSA: Não, eles foram incríveis, eu cheguei também com muitas idéias em estúdio quanto a forma, timbres, e a galera que trabalhou nesse disco, todos os músicos, da produção aos instrumentos são muito competentes, meus amigos, e que trabalham em diversos projetos incríveis. Bastava eu sugerir uma idéias eles captam na mesma hora. Mayale Pitanga que tocou guitarra e co-produziu o disco já tocou em outros projetos comigo, já fizemos trilha sonora para espetáculo de teatro juntos, tocamos em dois grupos um chamado Ybytu-Emi, um musical imenso sobre a cultura Afro-Ameríndia e uma banda de rapjazz que tivemos juntos, a Zuhri, que existe até hoje e foi de onde vieram Bruno Torres e Felipe Pires que viram gravar no álbum. Além de Ejigbo, que é meu amigo de longa e que é o baixista e DJ que toca comigo ao vivo.

VI$H: Fala pra gente como surgiu a conexão com os artistas Má Reputação, Shalow Adonai, e o rapper Marcola. Como foi gravar com eles? 
ISSA: Eu não iria chamar ninguém pra fazer participação, cara..nem tinha essa parada em mente, Marcelo Santana da Aquahertz que me deu esse insight e eu achei massa..eu já queria fazer um disco com muitas mãos envolvidas mas só tinha me atentado nos músicos da banda..quando rolou esse insight a escolha foi fácil. Eu conheci a Má Reputação no carnaval de 2019 em Salvador, nossa galera tinha ido pro meio do circuito Barra-Ondina e alguém que estava entre a gente foi pego polícia aleatoriamente, estávamos todos de boa..ai rolou essa tensão. Descemos todos pro posto policial, Mayale o guitarrista desse disco, tomou uma porrada de um soldado no joelho, porque tinha indagado...e aí enquanto a gente esperava lá a situação se resolver eu conheci Má Reputação, MC, Poeta, Produtora Cultural, Mãe e uma pessoa maravilhosa, que comunica muito fácil, aí fiquei sabendo que ela era de Ilhéus, terra de minha mãe, falei "tá tudo em casa '...tem um fato curioso também, que nesse mesmo dia eu tinha trocado idéia com Gabriel Nogueira, que conheci no dia..mas nem lembrava, o cara filmou meu clipe um ano depois e a gente lembrou essa situação, maior onda. Já Marcola foi o cara que escutei o disco dele e foi decisivo pra ir gravar com a galera da Aquahertz..acabei gostando muito da expressão dele, me tornei fã, rima muito, um cara pai, outra postura, tem um trabalho consistente e honesto consigo mesmo e com a música. Shalom Adonai é meu amigo de longa data, tivemos um grupo uns 6 anos atrás chamado Outros Diveros, a gente tocava samba, rock, música popular brasileira, hoje ele desponta como um dos sambadores da nova geração da Bahia, que tá carregando essa cultura do violeiro/sambador de maneira muito digna entre os mais jovens, que são poucos, do samba da Bahia, que vêm do Recôncavo Baiano, com uma infinidade de gêneros, ele se defende em todos eles e é meu irmão.



VI$H: Conta para os leitores qual a principal mensagem você quer passar para quem ouvir seu álbum?


ISSA: Cara, creio que o álbum tem uma gama de assuntos tratados diferente em cada música, mas é nítido que as questões raciais são as mais agudas, tanto no disco quanto na sociedade, também acredito muito no amor como chave de revolução, até mesmo pra você tomar algo de assalto tem que ter amor, mesmo pelo seu povo. Nossos inimigos são nossos inimigos porque eles amam o mundo que eles acreditam e não amam o mundo que nós enxergamos. Precisamos amar o que somos, pra tomar atitudes mais contundentes contra as investidas que tomamos. Digo enquanto povo preto mesmo. E nessa mesma seara o disco trampa uma questão de enxergar espírito em tudo, e estado de paciência como ferramenta.

VI$H: Além do Disco o que mais podemos esperar de novidades nos próximos meses?

ISSA: Se a pandemia folgar real, se existir condição real de trabalhar com cultura como ela deve ser, com certeza vou filmar. Já tenho roteiros prontos que fiz com Gabriel, com o pessoal da Aquahertz. Tõ gravando coisas novas também, na medida do possível, construindo guias, compondo. Trabalhando com Mayale Pitanga no disco solo dele, e com Ejigbo que vai lançar um EP pesado aí também esse ano. 

VI$H: Para quem ainda não conhece o cantor e compositor Issa, nos conte um pouco sobre a sua caminhada na musica até aqui. 
ISSA: Salve rapaziada Vish!! Me chamo ISSA, sou de Salvador da Bahia. Canto, toco, escrevo, componho, pesquiso e desembolo..espero que vocês escutem o Ambush Bahia que gostem, compartilhem e abracem a sensação! VIDA LONGA pra nós!


JAH Love!



Siga ISSA

Instagram
Facebook