23 Wells apresenta primeira mixtape, ouça "A Ladeira da Ilha"

Foto usada na publicação por @irianneveloso, com styling de @danimunira.

Guarde bem o nome do artista baiano 23 Wells. O rapper de 23 anos vem diretamente de Itapuã, Salvador/BA, nos apresentando sua primeira mixtape após ingressar em carreira solo. 

A mixtape nomeada "A Ladeira da Ilha", em como ponto central a conexão entre 23 Wells e a Rua Ilha de Maré, local em que o artista cresceu em Itapuã, bairro de Salvador. Trazendo histórias que o rapper vivenciou e o fizeram ser quem ele é hoje. O projeto mostra uma versatilidade única sendo explorada por Wells, viajando entre Trap e o R&B em cada faixa, englobando influência do Pop Rock. 

O trabalho é composto por três faixas, tendo beats feitos por Calibre, Heetz e Mayllon Beats. Todas as músicas contam com gravação, mixagem e masterização pelo Estúdio 2W, home studio do próprio artista, montado em parceria com Wall Cardozo


Trocamos um papo com o artista sobre os processos da mixtape. Confira abaixo:

VI$H: Como foi o processo criativo da mixtape "A Ladeira da Ilha"?
23 Wells: Por ser um trabalho para eu começar a ser visto, tentei trazer ao máximo minhas origens por meio das linhas e da voz, então A Ladeira da Ilha carrega muito do meu passado e processo de construção pessoal, desde as citações de fatos reais até a influência nas melodias por gêneros que comecei a consumir naquele período de 2008, ano em que passei a morar lá.
Em meio ao processo criativo, o uso dos diferentes flows foi algo natural e que no final ficou bastante conciso, visto que as músicas não foram escritas no mesmo período. 
"Eu Sou" foi escrita ainda no começo de 2019, "Marcas" seria lançada como single em novembro de 2019, e "Esquinas", a última a ser finalizada dentre as três, teve seu processo de produção iniciado em 2020, mas todas traziam o mesmo ponto central que é a ladeira que cresci subindo. Por essa razão, pude sintetizá-las numa Mixtape, cuja finalidade seria me apresentar ao público e convidá-los a subir a ladeira que como digo na faixa 46, desci para subir na vida.
O processo de gravação, mixagem e masterização pra mim foi visto como mais uma glória dentre as já conquistadas, pois as músicas foram todas produzidas no "Estúdio 2W", Home Studio fundando e gerenciado por mim e Wall Cardozo, amigo e artista local.
No final das contas vejo esse projeto como fruto de um processo de estudo, autoconhecimento e afirmação, lidando com dúvidas e auto sabotagem.

VI$H: Por que a mixtape carrega o nome de "A Ladeira da Ilha"?
23 Wells: O nome "A Ladeira da Ilha" é uma referência mais que direta a rua em que eu literalmente cresci e consequentemente cresci como pessoa e sobrevivente, a conhecida Rua Ilha de Maré em Itapuã, bairro de Salvador. Todo o projeto da Mixtape gira em torno da minha conexão com este lugar, como ele me fez, as memórias e as dores, pois onde houveram muitos sorrisos, infelizmente também houveram muitas lágrimas, mas principalmente a esperança nas crianças que vi crescer e nos meus amigos que hoje trabalham e são graduados. Além de tudo, a rua era conhecida por sua ladeira, e um fato interessante foi que mostrei a foto da capa para uma tia que não vai lá há muitos anos e perguntei que lugar era aquele, e então ela disse: "Essa aí é aquela rua que você morava em Itapuã né? Eu reconheci pela ladeira."


VI$H: Pretende lançar clipe de alguma faixa do projeto?
23 Wells: Com certeza! Pretendo lançar um clipe da música Esquinas, a faixa que fecha a Mixtape. Na verdade no projeto inicial ela seria lançada já com Videoclipe, eu já havia feito o roteiro e tudo estava dentro dos prazos que predefini. Mas infelizmente com o surto da Covid-19, o mais sensato foi prezar pelos envolvidos no projeto e a mim, então deixei de lado e reinventei, inclusive em relação a capa, que não seria a que foi lançada e sim uma fotografia em que se fazia presente meus amigos e as crianças que moram na Rua Ilha de Maré. 
A partir de um pico de criatividade surgiu a ideia de utilizar um meio que me favorecesse e conseguisse me colocar na minha antiga rua mesmo sem sair de casa, foi aí que o Google Street View entrou no projeto, tanto na capa, que é o aclive da rua, quanto na contra-capa, que é o declive, já nas artes do Youtube, foi colocado a visão híbrida do Google Maps em conjunto. Inclusive, vale deixar uma pequena observação de que na arte do Youtube de cada da faixa existe uma espécie de enigma que até agora não vi ninguém notar.

VI$H: Qual a principal visão você espera passar para o público que escutar a mixtape?
23 Wells: Creio que essa pergunta pode ser muito bem respondida com trechos retirados de cada uma das três músicas que a compõe.

23 Wells - Marcas: 
"Vidas com marcas, onde passou vejo um futuro!"

23 Wells - Eu Sou:
"Eu me vejo
 Eu sinto
 Eu sou
 Eu sei!"

 23 Wells - Esquinas: 
 "Passamos mensagens aos nossos 
  Apontamos talentos 
  Investimos nos nossos reflexos
  Esses jovens nos ver como espelhos
  Não podemos falhar!
  Nossos crias precisam vingar!
  Com assistência, nasce a esperança de encontrarem seu próprio lugar" 

Em resumo, a visão que me propus a passar aos ouvintes é de procurar o autoconhecimento e se compreender, ter consciência das suas virtudes, olhar para si e poder enxergar uma potência.
Outro ponto, é a questão da responsabilidade com os jovens negros, ter a frase "progresso aos nossos" como verdade, auxiliar no possível aqueles que o rodeiam, e saber que em todo mundo existe um talento e que muitas das vezes, é preciso apenas assistí-los para alcançarem seu devido lugar, mesmo que esta vida possua diversas marcas ao longo da história.

VI$H: Conte-nos como foi a sua conexão com os beatmakers que compõe a mixtape? Como surgiu as conexões?
23 Wells: Com toda certeza foi uma conexão bastante produtiva, tudo que conversamos para compor os beats está ali, eles conseguiram inclusive superar as expectativas a cada projeto enviado ao decorrer da produção até a finalização. Infelizmente todo o contato foi virtual, mas não atrapalhou em nada na qualidade do material, visto que a atenção era bastante recíproca. Eu já havia trabalhado com dois dos três beatmakers envolvidos na Mixtape, são eles Heetz e Calibre, e agora tive o primeiro contato com Mayllon Beats através de Calibre, onde juntos fizeram o beat de Esquinas se tornar real. A conexão com Heetz surgiu ainda na época do WWL RAP, o conhecemos através de San71ago, já que ambos residem em Simões Filho, cidade metropolitana de Salvador. Durante esse período fizemos muitos projetos juntos, inclusive no último trabalho do grupo, onde cinco faixas possuem suas obras. 
Já a conexão com Calibre foi desde o princípio via internet, a partir de catálogos disponibilizados pelo beatmaker. O primeiro trabalho que tive o prazer de ter um beat produzido pelo mesmo foi o single "Já Passei dos 20", que inclusive é o meu ponto de largada como 23 Wells, sendo esse instrumental composto com arranjos de Pagode vinculados ao Trap, o famoso "Trapagodão", gênero que foi criado pelo próprio Calibre há milianos.

VI$H: O que podemos esperar do 23 Wells após o lançamento desta mixtape?
23 Wells: O público pode esperar por mais trabalhos sólidos como A Ladeira da Ilha, com uma carga emocional e também como potencia informativa, não deixando de lado projetos mais "comerciais", enfim, não ficarei numa zona de conforto, estou certo que tenho tudo para me estabelecer de uma vez na cena local, essa é uma das minhas metas principais, e com tempo e trabalho, ser reconhecido nacionalmente. Já tenho mais 3 músicas prontas para serem lançadas e 2 em processo de produção, sendo elas do Trap ao R&B, e especificamente falando da última a ter sido iniciada, será algo com mais influências do Pop Rock e Pop Punk, gêneros que consumo já há um tempo e esta fórmula, que foi utilizada na faixa "Esquinas" da Mixtape no qual utilizei da musicalidade do Pop Rock, deu certo, o feedback positivo foi grande.

VI$H: Fale um pouco sobre a sua caminhada como artista até aqui.
23 Wells: Eu ingressei na cena do movimento Hip Hop em 2013 com o grupo formado na época do colégio junto aos meus amigos e também artistas locais Wall Cardozo e San71ago, o WWL RAP.  Em novembro deste ano completo 7 anos de intervenções artísticas, palestras e debates em escolas, eventos e comunidades, muito conhecimento foi adquirido e também passado, sinto que meu crescimento como pessoa e artista é nítido, e muito se deu por conta dessa longa estrada que caminhei. Foram vários trabalhos ao longo dos anos, como o EP "Tinha Que Ser Preto" (2016) e a Mixtape "3X4" (2019) do WWL RAP, nesse meio tempo, em 2017 lancei minha primeira música solo, o single "Espírito da Vingança", e só em 2019, após o fim do grupo no começo do mesmo ano, lancei mais um trabalho solo e dessa vez já me identificando de fato como 23 Wells, "Já Passei dos 20" foi a música de estréia dessa nova jornada que estou seguindo. Agora nesse mês de junho com o lançamento da Mixtape "A Ladeira da Ilha" tento me estabelecer na cena local, através de toda a musicalidade que foi explorada nesse projeto. 
Além da música, também estou totalmente envolvido no mundo da moda junto a minha companheira, Dani Munira, temos a marca de vestuário Munira (@muniraoficial), onde ao lado dela, que é a CEO, auxilio na produção dos editoriais e na criação, e também sou responsável pela contabilidade da empresa, assim como no coletivo de moda PALA (@pala.co), mais um projeto criado por Dani Munira e que reúne cinco marcas independentes de Salvador, são elas a Munira, DUGUETO, Studio 64, Rayzez e Teroy13.


Foto usada na publicação por @irianneveloso, com styling de @danimunira.

VI$H: Antes de terminar a entrevista, qual recado você deixa para os leitores musicais que estão te conhecendo?
23 Wells: Gostaria de aproveitar o espaço para agradecer à todas pessoas que ouviram a Mixtape A Ladeira da Ilha, que compartilharam em suas redes sociais para que amigos e familiares pudessem conhecer o meu trabalho, que vieram até mim com feedbacks maravilhosos, palavras de incentivo e mostrando que realmente apreciaram ao máximo o projeto, esse retorno é extremamente gratificante e eu me sinto muito honrado.

Quero que todas essas pessoas sintam-se abraçadas! 

Também quero deixar registrado aqui para o público que sempre irei me colocar por inteiro dentro dos meus trabalhos, a fim de atender as expectativas colocadas em mim e me sentir realizado com as produções. Para finalizar, um fato importante a ser citado foi a mensagem que a vida me deu na noite anterior ao lançamento, quando me envolvi num acidente de carro a caminho do trabalho, caí numa ribanceira com cerca de 16 metros e graças a um livramento divino estou bem, quase eu não pude viver o dia 23, o dia do meu lançamento, mas no final das contas o dia 23 foi como o meu primeiro dia em vida. Tomei como um aviso que o meu destino é o meu sonho, pois se fosse para não viver da minha arte, eu não teria saído vivo do ocorrido.


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