VI$H: Primeiramente, nos conte como surgiu essa conexão entre VNDROID e Yannick Hara.
VNDROID - Quando começou a pandemia, eu comecei a entrar em alguns grupos de whatsapp com pessoas que ia conhecendo online. Aí um dia no grupo da Empty Kids, grupo de Facebook que eu frequentava muito eu vi uma mensagem do Yannick. Eu já conhecia e era fã do som dele, então vi aquela oportunidade e fui falar c ele, mandar meu som tb pra ele ver, hahahah, e desde o começo já vimos que nossa vibe bateu muito.
YANNICK HARA – Estava divulgando se eu não me engano o single Pandemia ou o Vida Offline e alguém me mostrou a música Meu Tempo do VNDROID (fui tentar achar quem foi, se vc que me mostrou esse som estiver lendo isso, comente minha memória anda muito fraca graças a Fluoxetina rs). Vi o clipe e me identifiquei na hora, é muito importante se conectar com pessoas que enxergam o mundo de uma outra perspectiva. Tempos depois estava eu no grupo de Whatsapp da Empty Kids e trombei o VNDROID lá. Falamos um com o outro rapidamente e rolou uma sincronicidade e sintonia nas ideias, prontamente o convidei para um feat e tudo muito a distância, sem nunca ter se visto rolou a parada.
VI$H: Vocês acreditam que a era Cyberpunk já está aqui?
VNDROID - Sim, e já faz muito
tempo, mas é cada vez mais gritante. O capitalismo se baseia na noção de que a
vida vai ser melhor no futuro, que é a única forma de justificar o sofrimento
que é a vida no presente.
O Cyberpunk surgiu como uma
crítica a essa visão de progresso capitalista. Eles diziam que as novas
tecnologias trariam vantagens mas também trariam ferramentas cada vez mais
poderosas de controle e exploração.
E é isso que vivemos hoje, nos
últimos 10 anos, perdemos toda nossa privacidade para gigantes tecnológicos que
sabem tudo sobre nossa vida, mais do que nós mesmos somos capazes de saber.
Tudo que a gente pensa, tudo que consumimos, essa entrevista mesmo, chegou em quem tá lendo ela através de um algoritmo proprietário de uma grande corporação. Nunca houve tanta concentração de poder na história da humanidade.
YANNICK HARA – A alta tecnologia garante que a baixa qualidade de vida se mantenha sob controle na humanidade há anos. Parecemos não nos importar com isso, tudo hoje é descartável, tudo é online 24 por 48, 7 dias na semana, 365 dias por ano. Imagine agora a humanidade sem internet e energia, um colapso total. Isso é cyberpunk, é sobre o social mas até nisso a controlepatia controla a estética do sentido da palavra através das franquias cinematográficas e dos games.
VI$H: A estética explorada no trabalho é além do tempo. Quais as principais influencias encontramos por trás deste single?
VNDROID - Sonoramente, eu andava
ouvindo muita Arca, lembro que na semana que fiz esse beat eu tinha descoberto
que ela tinha trabalhado na produção do Yeezus, e tava me inspirando muito na
produção desse álbum do Kanye West e do último da Arca.
Eu queria trazer essa sonoridade industrial, mas cheia de silêncios também, explorando o excesso junto com o vazio. O Roteiro pra Ainouz, do Don L, também era uma grande referência, e um dos meus álbuns favoritos.
YANNICK HARA – O que me inspirou mesmo foi a necessidade de falar mais sobre o que significa o CYBERPUNK, é a cultura da alta tecnologia e baixa qualidade de vida. Dizer na música que a não ficção é real, é o hoje não é o ontem nem o amanhã, é o agora. E dar as boas vindas a uma era que já estamos há um bom tempo, mas acreditamos ser muito recente e não é.
VI$H: O single fala sobre a realidade de forma impactante. Como funcionou o processo de criação da faixa?
VNDROID - O Yannick que começou a
escrever primeiro, levando aquela vibe bem cinemática pra letra já no começo.
Aquilo já me inspirou e me colocou dentro desse universo de um filme, cada linha
era como uma cena diferente.
Mais do que entrar fundo demais em qualquer assunto, a música parecia uma introdução mesmo a esse universo Cyberpunk, dentro do qual tanto eu eu quanto o Yannick ja tínhamos feito vários sons explorando coisas mais específicas.
YANNICK HARA – Sim, canetei primeiro e em seguida o VNDROID amassou.
VI$H: Teremos mais colaborações entre VNDROID e Yannick Hara neste ano? Pode nos revelar algo?
VNDROID - Siim! O Yannick ja me
enviou um som dele produzido pelo Verderame, no qual escrevi uma parte minha
também, agora falta só eu gravar e aí mixar tudo.
A música vai chamar Antidepressivos, com uma vibe pos-punk e temática focada em uma questão também extremamente atual, o uso de substâncias psiquiátricas: Verdadeiras tecnologias da mente, compostos químicos capazes de alterar a própria percepção da realidade humana.
YANNICK HARA – Desde setembro de 2020 fui diagnosticado com depressão, quando comecei o tratamento tive muitas reações químicas, físicas e psíquicas com os remédios. Acreditei que isso comprometeria minha criatividade cheguei a cogitar a parar com a música. Depois de muito esforço e tratamentos paralelos pude escrever sobre. Me inspirei numa banda de pós punk chamada LEBANON HANOVER e fiz uma versão da música deles a Galledance. Acionei meu grande amigo Verderame que já havia produzido o single NECROPOLÍTICA e escrevi o que sentia exatamente naquele dia. Como o VNDROID disse acima a música se chama ANTIDEPRESSIVOS e sairá muito em breve, com a participação do meu irmão Law Tissot, em mais uma incrível capa.
VI$H: "É tão real a tanto tempo, que até já tá parecendo natural. É tão sem sal, tanto veneno, que eu já tô até me vendendo pra não passar mal". Esse verso nos chamou atenção no single, dissesse um pouco da letra.
YANNICK HARA – VNDROID amassou nessa parte e na rima toda, o lek é brabo.
VI$H: Qual a historia que se passa nos quadrinhos realizados pelo desenhista Law Tissot?
YANNICK HARA – Law Tissot é
um grande desenhista que pude conhecer através do também desenhista Sandro
Saraiva que fez as capas do single Pandemia e Vida Offline. Law tem um trabalho
chamado CIDADE CYBER onde justamente ele retrata um futuro altamente
tecnológico e totalmente distopico. E dentro dessa narrativa, Law construiu sua
visão sobre cultura cyberpunk .
VNDROID – Nossa, fiquei chocado quando o Yannick me mostrou o trabalho do Law, achei muito incrível. Agora, quanto à história, hahahah, acho que fica aberto pra interpretação. Acho que é mais uma apresentação desse universo, assim como a música é, do que alguma narrativa específica localizada dentro dele.
VI$H: Antes de finalizar a entrevista, deixe um recado para o público que está conhecendo seu trabalho agora.
YANNICK HARA – Quero agradecer
imensamente ao site Vish Media pela oportunidade de falar sobre esse novo
trabalho e dizer a todas e todos leitores, que sejam sempre vocês mesmos,
acreditem e ponham ação em seus sonhos, seja lá o que for.
