Fabio Santanna, do Live Motel, lança álbum "Funk-se" e promete abrir espaço para a música negra/brasileira com nova gravadora

Desde quando o Funk surgiu em meados da década de 60, o estilo foi um canal de expressão e liberdade para a comunidade negra norte-americana. O ritmo, nesta época, também está intimamente ligado à luta pelos Direitos Civis nos Estados Unidos. As letras contavam o cotidiano de discriminação e da falta de perspectiva dos afrodescendentes.

Então o Funk se alastrou por diversas partes do mundo, penetrando entre os lares brancos, e levando a mensagem da comunidade afro para todos que desejassem cair na dança, aos bons grooves do estilo. Hoje o estilo é, e sempre será, um forte canal de representatividade, empoderamento e igualdade. 

E é através desse gancho, que Fabio Santanna e seu projeto Live Motel, faz a estreia de sua nova gravadora, a Na Nave Records. O carioca que é multi instrumentista, DJ, produtor e possui um currículo invejável no que diz respeito à musicalidade brasileira e eletrônica, decidiu dar vida ao novo projeto no mercado fonográfico, porém, trazendo um propósito firme com base na representatividade e inclusão da diversidade.

“Eu tenho uma percepção como artista negro, que a nossa musica eletrônica brasileira ainda tem muito pouco espaço dedicado a artistas negros, e a referências afros brasileiras, principalmente quando pensamos em mainstream. Tenho vários anos de carreira, já toquei com grandes medalhões da nossa música, construí um estúdio para poder produzir música, e ainda estou tentando abrir espaço, batalhando para poder tocar, lançar e compartilhar música eletrônica com elementos, black, afro... fico imaginando dificuldade da galera que está chegando com esse perfil e não conseguindo espaço pra fazer esse tipo de música, acredito demais na nosso música eletrônica, mas precisamos ampliar o olhar”, explica Fábio.

O lançamento inaugural vem através de Funk-se, álbum que conta sete faixas e vem celebrando a magia pura do Funk e Boogie, com influências de Herbie Hancok, Lincoln Olivetti e Black Rio. “Quero muito poder somar, poder ajudar a ampliar esse olhar. Por isso, uma coisa legal desse lançamento é que vai ser o debut do meu próprio selo, Na Nave Records como uma tentativa de alcançar esse tipo de artista, já que sinto na pele a dificuldade de lançar um trabalho com essas características, alcançar um público maior”, completa.

O disco vem com um videoclipe super afro futurista da faixa “Segura a nega” e foi todo produzido no Na Nave Estúdio.  

Com sete faixas, o álbum é um convite a ampliar os ouvidos e o olhar, com raízes fincadas no Boogie e no Disco-Funk. De brinde, Fabinho preparou pra gente um Faixa a Faixa especial para você conhecer mais detalhes criativos de cada uma das composições presentes no seu belo disco:

Segura a nega: Beat funk, synths de moog, vocoder e vocais nessa track cheia de malevolência que abre o disco. “Segura a nega” traz consigo uma vibe black Rio, com uma letra inspirada em artistas como Jorge Ben Jor e Bebeto, imprimindo aquela vibe carioca dos bailes — e ainda rola aquela cuíca para engrossar o caldo, além de um solo de vocoder.

Chega mais: Foi o primeiro single do disco, onde o artista recebe o músico Traka e juntos prestam uma homenagem a Herbie Hancock num funk urbano eletrônico. Herbie é uma das minhas grandes influências. Quando ouvi “Rockit” pela primeira vez, pirei total, música eletrônica e black music juntas!

Beija Flor: Beat com influências afro, metais a la Fela Kuti se misturam mais uma vez a synths e vocais. Beija flor tem uma letra simples, privilegiando o ritmo e a cadência do groove. Quando construí essa track, pensei num encontro, numa jam entre João Donato e Azymuth para me ajudar a construir esse universo Brasil eletrônico. Essa também traz mais um solo de Traka no sax.

Funk-se: Faixa-título do disco. Um convite ao ouvinte funkear, a curtir a música eletrônica black, com a part. de Luisa Moura nos vocais. Nessa música Fabio também se auto sampleou e criou o riff vocal da música. Funk-se! 

Meu amor em Salvador: Dentre os artistas que tenho escutado muito ultimamente se destacam Yuskek e Bosq.  Curto demais esses artistas, suas produções e os tenho como referência na construção das minhas últimas músicas. Esse track vai muito nessa vibe.

This is house music: Sou um apaixonado pela house music, Miguel Migs, Joey Negro, o selo Naked Music, sempre foram uma fonte de inspirando e finesse. Aqui fiz a minha bebendo nesses mestres da sonoridade. A track conta com os vocais super sexy de Luisa Moura.

Escorpião: A última do disco, o artista do signo de escorpião cria um groove onde mistura afro e house music, adicionando synths e guitarras funk para fechar com chave de ouro!

Escute o álbum na integra abaixo pelo Spotify:


Texto realizado por Ágatha Prado