Você já ouviu um FORRÓTRAP?! Conheça o trabalho sendo feito pelo artista DUPÊ


Pois é, é isso mesmo que você leu. Mas primeiro precisamos voltar à base pra entender melhor o contexto do nascimento dessa idéia. DUPÊ é um artista e rapper de Salvador, capital da Bahia, que nos últimos anos andou apostando em "frankensteins" musicais com o intuito de reformar a cena do rap brasileiro. 

Vindo das batalhas de mc's, DUPÊ tem um corre consolidado, sendo líder do coletivo de poesia “Capitães D’areia” (que declama poesia dentro dos ônibus, e estando a frente da marca TRAPIXO. Sua caminhada começou no clássico boombap, mas desde seu primeiro álbum ele já dava indícios de procurar algo diferente. A faixa "Noite de Morfina", lançada em 2017, por exemplo, já traça um caminho para esse artista baiano. 

Sua versatilidade é algo a ser destacado logo de cara, trazendo o artista no comando do que pode ser considerado um dos pioneiros no "PAGOTRAP", gênero que ta decolando em salvador e que faz um mix do pagodão baiano com o Trap/Rap. Foi nesse cenário que nasceu, no são joão de 2021,o single intitulado "Lábio de Licor", o primeiro "FORRÓTRAP" da cena. 

O trabalho que conta com produção musical de Guiga Serra e Pedro Falcão, repercutiu de imediato nas redes sociais e promete ser um caminho inovador e revolucionário no hip hop brasileiro, e talvez do cenário musical inteiro. A faixa em questão vem acompanhada por videoclipe realizado por Dellima e a BUTUKA Produções. Confira completo abaixo: 


Não deixe de ouvir o trabalho de DUPÊ nas principais plataformas de streaming. 


A VI$H trocou uma ideia exclusiva com DUPÊ, te deixando por dentro de mais detalhes do single e próximos passos do artista. Flagre:

VI$H: Você tem empregado muita versatilidade. Qual a principal mensagem deseja passar para quem está curtindo seus últimos trabalhos lançados? 
DUPÊ: Originalidade. Acredito que todas as pessoas são únicas em sua forma de se expressar. Todos nós somos artistas, a arte nada mais é você expressar a essência do seu eu superior, seja construindo um prédio, seja costurando uma ferida. Porém o sistema social que a gente vive (criado por nós mesmos) nos limita, porque é do interesse dos que tão no topo nos mecanizar, esse é o princípio básico do capitalismo: formar máquinas que fazem a mesma função na linha de produção. Por isso que as escolas, faculdades e famílias formam pessoas padronizadas, que pensam igual, se vestem igual e se expressam da mesma forma. REVOLUCIONE SUA ALMA! 
  
VI$H: Nada poderia ser mais brasileiro que o FORRÓTRAP! Quais foram as principais influências para o desenvolvimento desta ideia? 
DUPÊ: Eu tenho muitas, muitas influências mesmo, até porque é meu trabalho e minha verdadeira essência, então eu estudo muito música e conheço muita coisa. A base pra essa mistura que eu faço é o manifesto antropofágico, uma manifestação artística da década de 20 feita por Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral, que a ideia central era basicamente o significado da antropofagia das tribos indígenas brasileiras (antropofagia é o ato de comer outra pessoa; canibalismo). A ideia do movimento era se alimentar do "inimigo", no caso, a arte dos países desenvolvidos, principalmente Estados Unidos, e a partir dessa digestão do inimigo criar algo novo. Ou seja, é se alimentar das referências externas pra criar uma coisa nova. O forrótrap nada mais é do que é isso, a cultura do "inimigo" gringo que é o trap, só que transformada em forró, em repente (que é uma forma de fazer rap). Raul Seixas fez isso, Chico Science fez isso, Baiana System faz isso, e posso até citar artistas gringos que fazem isso: o próprio Kendrick Lamar faz isso, e é uma das minhas maiores referências nisso, só que no caso dele é se alimentar do TRAP (vertente que saiu do Hip Hop e do rap tradicional, Boom Bap), que seria a cultura do "inimigo" (porque seria a cultura mais famosa e mais consumida) e criar algo novo, que é o que ele vem fazendo, um trap diferenciado. 
  
VI$H: Consegue nos resgatar como foi o processo criativo do single “Lábio de Licor”? 
DUPÊ: Eu me internei por uma semana no estúdio com meu produtor, Guiga Serra, foram uns 5-7 dias de trabalho 24h porque a gente precisava cumprir o cronograma, mas a música fluiu de uma forma tão bonita e artística que acabou não sendo cansativo. Eu fiquei ouvindo durante essa semana inteira uma playlist no spotfy de forró antigo, xote, pra captar a essência da sonoridade. A gente conseguiu extrair algo muito diferente dessa música, uma energia positiva, algo muito estranho mesmo, diversas pessoas vieram falar comigo depois dessa sensação que a música passava, algo meio nostálgico, uma lembrança boa da infância, do amor ingênuo. Sem dúvidas é nosso maior acerto musical.
  
VI$H: Como foi trabalhar ao lado de  Guiga Serra e Pedro Falcão na produção do single? 
DUPÊ: Me senti que nem isaac newton, sobre os ombros de gigantes KKKKKKKK. Desde quando comecei a andar com Guiga, meus horizontes sobre a música mudaram bastante, Pedro falcão é um amigo dele que mora em Amsterdã e é um instrumentista absurdo, principalmente no saxofone e no violão, que foi o que ele contribuiu no som, esse violãozinho da intro, os arranjos do sax, saíram tudo dele, e a galera que anda com Guiga é só nesse naipe, músicos profissionais, instrumentistas, que entendem de verdade teoria musical, enfim, e eu nunca tive acesso à esse lado mais "produtor" e menos "beatmaker" da música, e eu fiquei encantado. Então, fazer música com eles é sempre uma viagem fantástica, que você fica só observando e admirando a paisagem, e aprendendo com o que você vê.
  

VI$H: Veremos mais desta combinação entre forró e rap daqui pra frente? Pode nos revelar algo? 
DUPÊ: Com certeza, na real essa pergunta me deu uma ideia, porque realmente o sucesso de lábio de licor foi o primeiro "Boom" da minha carreira, e o inteligente a se fazer é continuar investindo nisso, e eu tô produzindo meu primeiro álbum agora só de lovesong, voltado pro comercial mesmo, e me deu conta que não tem NENHUM forró, mas eu vou dar um jeito nisso. Mas a trilha dos meus próximos passos já está dada.
Dora: Esposa, um álbum só de lovesong e poesia romântica que está sendo produzido e vai ser lançado ainda esse ano.

VI$H: Deixe um recado para o público que está conhecendo seu trabalho agora neste momento. 
DUPÊ: Imagine a quantidade de artista diferente e inovador existe que você não conhece, muito por culpa do mercado que não abre espaço; Então quando você conhecer um, apoie, compartilhe e espalhe nossa arte subversiva pro resto do mundo. O poder está em você e não na mídia, a revolução não será televisionada, ASÉ PEDRO BALA!