O evento age como um movimento de impacto social positivo. O festival Órbita utiliza a própria vivência da ZN para distribuir conhecimento cultural e musical para jovens homens e mulheres, ressaltando como o empreendedorismo periféiro é um um local de muita potência, inteligência e criatividade, além de um local de relações pulsantes.
Órbita Periférica é resultado do “Novas Estrelas, Novas Conexões” – projeto que existe desde 2021 para fortalecer produções artísticas independentes e auxiliar o empreendedorismo artístico periférico de São Paulo (SP). Se importante em desenvolver o desempenho de novos artistas, a beja iniciativa já ajudou 30 jovens e produtores iniciantes conectados a mais de 60 artistas e produtores atuantes do mercado.
Sendo um evento recheado para o público, o Órbita Periférica terá oito horas de duração, envolvendo muita música e arte. O festilval contou com auxílio dos jovens que participaram do projeto, sendo uma organização da equipe Star Black Produções - que atua no fortalecimento e revelação de novos artistas das periferias. Para saber mais, acesse aqui.
VI$H: O Órbita Periférica vai acontecer de modo gratuito e reunindo talentos únicos da cena. Qual a principal premissa do festival?
Tefa Bevenuto, diretora e produção do Órbita Periférica e co-idealizadora e coordenadora do projeto Novas Estrelas, Novas Conexões: Nossa premissa é reunir artistas independentes junto a nomes já consagrados do rap nacional. A ideia é fazer uma mistura, um intercâmbio, de ideias e gerações. A gente quer celebrar a cultura hip hop, fortalecer a cena artística da Zona Norte de São Paulo. Essa é uma região de origem de grandes nomes, como Edi Rock, KL jay, Kamau, entre outros. Também temos o objetivo de promover de festivais de relevância em regiões periféricas.
VI$H: Em relação a estreia do festival, quais são as principais mudanças e upgrades para a 2° edição?
T.B.: A primeira edição do evento tinha caráter mais intimista, com o objetivo reunir os jovens artistas e produtores que participaram do “Novas Estrelas, Novas Conexões”, que passaram a maior parte do projeto em oficinas formativas à distância, por causa da pandemia. Este segundo evento é maior, aberto para todas as pessoas, e coloca em prática as aprendizagens de produção artística trocadas desde 2021 e pretende promovê-las de forma gratuita para todas as pessoas interessadas.
VI$H: Conte mais sobre o projeto “Novas Estrelas, Novas Conexões”.
T.B.: A ideia do projeto nasceu em 2020 em um encontro despretensioso. Eu e o Rafa Grave (produtor artístico) temos uma caminhada com produções culturais e artísticas, e como mobilizadores culturais, sempre quisemos trazer mais conhecimento e ações de impacto para nossa região. Em um encontro no estúdio Star Black Produções percebemos que esse também era um sonho dos nossos parceiros Dj Bac, Gabi Silva e Matias Nubeat, que já vinham de uma longa caminhada, totalmente independente, produzindo músicas e clipes para artistas da quebradas. A multiartista Olívia Mattos chegou um pouco depois, imprimindo sua experiência com produções variadas na música, no teatro, em slams e performances. Percebemos que tínhamos em comum ter iniciado nas produções artísticas através do contato com arte em coletivos e igrejas dos nossos bairros. E então pensamos: “Por que não desenvolver oficinas sobre temas variados e formar novos produtores periféricos como nós?”
Foi assim que nasceu o Novas Estrelas e Novas Conexões. O projeto ganhou forma e foi contemplado pela 5ª Lei de Fomento e Cultura às Periferias de São Paulo. Durante dois anos, selecionamos cerca de 30 jovens periféricos (15 em cada ano de projeto) interessados em produção artística para participar de diversas ações e oficinas formativas com nomes consolidados do ramo. O projeto priorizou a seleção de pessoas pretas, mulheres e pessoas LGBTQIAP+, considerando que este é um público com menos oportunidades de acesso. Ao longo desses dois anos, somamos mais de 300h de oficinas formativas, reuniões, elaboração de eventos e ações concretas que possibilitaram esses jovens iniciar seus portfólios artísticos para construir uma carreira sustentável na área. Durante todo o período os jovens foram acompanhados pela equipe da Star Black Produções, tendo acesso ao estúdio e muitos com um acompanhamento personalizado a partir da sua área de interesse.
VI$H: Como tem sido realizar o festival lado a lado com o projeto "Novas Estrelas, Novas Conexões"?
T.B.: O projeto serviu como plataforma para reunirmos uma galera que já trabalha com arte e conectá-las. Foram mais de 80 produtores e artistas trocando experiência ao longo desses 2 anos, e de certa forma, é esse time que está ativando o festival. Contamos muito com a parceria dos jovens participantes de 2022 na concepção do “Órbita Periférica”. O nome do festival foi criado pelos jovens participantes do “Novas Estrelas, Novas Conexões”. Eles estão em tudo: desde a estruturação de questões técnicas até a curadoria dos artistas convidados. Acionamos os participantes de 2022 para auxiliar na divulgação e promoção do evento junto às suas quebradas. É um desafio conectar tanta gente ao mesmo tempo, pois muitos de nós ainda não consegue sobreviver somente com trabalhos artísticos. Mas, este evento é uma oportunidade de reunir todo o time que trabalhou nesse projeto e comemorar essa trajetória bonita que construímos juntos.
VI$H: A importância de proliferar o hip-hop é claramente o ponto do projeto. Como tem sido atuar no ciclo cultural da Zona Norte?
T.B.: Já fui moradora de algumas quebradas da zona norte e posso dizer que já vi o hip hop salvar muita gente. Desde quando a gente se reconhece numa letra de rap até quando a gente é convidada para um grafite no escadão. São nessas pequenas ações que fortalecem nossa autoestima, nos fazem sentir parte, expandem nossa capacidade coletiva e fazem com que a gente acredite que somos criadores de novas tendências, novas estéticas, que a gente dita muitos caminhos artísticos. Na zona norte nasceram várias lendas do rap e hip hop nacional, mas hoje a cena é sustentada por muitos coletivos e espaços públicos, como a Casa de Cultura da Vila Guilherme, nossa parceira indispensável nessa caminhada, que muitas vezes nos acolheu para ensaios, nos ofertou acesso à equipamentos e um espaço para apresentarmos nossos trabalhos. Com a ascensão do rap, muita gente reduz o movimento ao estilo musical. O festival Órbita Periférica é uma tentativa de potencializar nossas produções musicais, mas também retomar compromissos coletivos históricos do movimento.
VI$H: Como é ter jovens empreendedores da periferia agitando movimentos como o festival?
T.B.: Quem é de periferia já nasce com empreendedor. É engraçado que muita gente associa o empreendedorismo às startups de Pinheiros, aos coworkings da Vila Madalena, mas ninguém olha para o Cláudio da banca de pastel e diz que ele é empreendedor [exemplo hipotético]. Não olham para essas adegas, que na quebrada, que vem crescendo cada vez mais - é uma em cada esquina... Vai chamar gente que vende comida e bebida de empreendedor? Vai olhar para costureiras e artesãs do bairro e chamar de empreendedora? O fato é que sempre fizemos nossos rolês e nossas festas, mas nunca fomos chamados de empreendedores. A ideia desse festival é trazer esse protagonismo e essa narrativa.
VI$H: A line-up do evento vem recheada de atrações. Como foi unir todos esses nomes em um mesmo evento?
T.B.: Foi muita ideia e parceria. No geral, as pessoas acreditaram no projeto e quiseram fazer parte do festival. E isso é muito gratificante porque demonstra que faz sentido para muita gente.
VI$H: Obrigado pela sua participação! Deixe um recado para o público que estará presente e para aqueles que estão acompanhando o projeto de outras regiões.
T.B.: Nós temos intenção de produzir uma 3ª edição, então convido todas as pessoas interessadas a curtir nosso Instagram @orbitaperiferica, a acompanhar os trabalhos dos organizadores @starblackproducoes, @nobiproducoes e acompanhar também a página do projeto @novaestrelas novasconexoes, onde faremos uma retrospectiva desses 2 anos em breve.
Acompanhe a VI$H!