A música, como toda a arte, flui cíclica. Não à toa, entre tantos gêneros, é muito fácil se perder nas origens cruzadas de suas vertentes, influenciando umas às outras e servindo como combustível criativo para que novos estilos tomem conta de palcos e pistas ao passar das décadas. Pois quando se trata de Funk e música eletrônica, seus caminhos estão mais entrelaçados do que se imagina, e essa gostosa mistura que têm se propagado por grandes clubes e festivais atualmente, nada mais é que um reencontro de velhos conhecidos.
No entanto, quando se fala da união dos estilos, não é difícil ver por aí gente com o nariz torcido. Um episódio recente que marcou a cena e levantou questionamentos acerca do tema aconteceu na última edição do TimeWarp no Brasil, em São Paulo. Na ocasião, o respeitado DJ americano Seth Troxler tocou durante seu set um edit do hit de "Se Tá Solteira", de FBC e VHOOR, e após o vídeo do momento ter sido publicado no perfil oficial do evento no Instagram, o artista recebeu duras críticas.
Entre os comentários na publicação, liam-se coisas como “um DJ tão bom tocando funk” ou “quem vai em um festival desses, vai para ouvir música eletronica”. Porém, o que essas pessoas não sabem, ou fingem desconhecer, é que Funk é sim música eletrônica, e quem conhece sua história, admira a riqueza cultural presente em suas transformações, da influência do Miami Bass aos proibidões dos dias atuais.
Em seus primórdios, dando os primeiros passos em território nacional nos anos 90, o estilo que hoje conhecemos como Funk brasileiro recebeu forte influência da EDM global, através dos graves, breaks e sintetizadores do Miami Bass, Electro de Chicago até o Latin Freestyle. Com o passar do tempo, os DJs brasileiros foram acrescentando à essa mescla de sons o seu próprio tempero cultural, com tambores, atabaques, berimbau nas bases e letras que contavam a realidade de seu cotidiano, majoritariamente vivido na periferia.
O Funk portanto está entrelaçado na história da música eletrônica brasileira e o fato de agora estar bombando mundo afora em diferentes roupagens apenas mostra que conseguimos exportar mais uma importante peça de nossa cultura musical, como já feito com o Samba, Bossa Nova, Forró, Axé e tantos outros estilos. Seguindo essa premissa, artistas nacionais têm se destacado internacionalmente pela autenticidade ao assumir suas raízes, como Classmatic, explodindo com "Catuca" antes mesmo de seu lançamento oficial, através do suporte do gigante britânico Michael Bibi.
Outros dois brazucas que acabaram de colaborar com o crescimento dessa tendência foram Lucas Bahr e Abbud. A dupla lançou nesta sexta-feira (09) o single "PPtão", com sample de um hit do Funk carioca, recebendo a chancela da Nervous Records, uma das gravadoras de dance music mais antigas dos Estados Unidos. Fundado em 1991, com sede em Nova York, o selo é responsável por assinar grandes sucessos do House e Hip Hop das últimas décadas, sendo referência na indústria por seu catálogo. Alguma dúvida de que os meninos chegaram longe?
Ouça agora a track:
Para quem quer curtir ainda mais essa mistura na pista, deixamos aqui também outras sugestões de um blend perfeito entre dance music e batidão brasileiro. Aproveite!
DJ Bassan | Boiler Room São Paulo: Limitrofe Television
JLZ | EP Area 4
Valentina Luz | Boiler Room & Heineken: São Paulo
Da Surra | PiNKE e T_Pazos
Texto por Louise Lamin
O Funk está cada vez mais presente nas pistas de música eletrônica e a gente pode provar
Reviewed by VISH MÍDIA
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12 dezembro
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