O rapper onni abre caminho para seu novo álbum com a estreia do clipe "Selva"

Guarde com atenção o nome do artista onni. Vindo diretamente de Nova Iguaçu (Baixada Fluminense - RJ), o rapper vem deixando ideias marcantes na cena desde 2008, aonde atua visando o despertar da consciência e a noção de pertencimento através da palavra e do corpo enquanto território. Em 2017, onni nos apresentou seu primeiro álbum, e agora em 2023, está pronto para adicionar um novo capitulo em sua discografia com o disco "Sagrado Favelado".

“Sagrado Favelado” é um álbum visual de 7 faixas inéditas, no qual Miguel Afa pintou uma tela para cada música, dando forma ao ritmo e narrativas propostas pelas canções (Projeto co-criado pelos artistas ONNI, o pintor Miguel Afa e o diretor musical ASIRI). 

A primeira emanação de Sagrado Favelado se deu em esfera física com uma exposição das telas e a audição do disco. Tudo isso aconteceu na Casa Bicho, um espaço voltado para a arte contemporânea no Jardim Botânico (RJ), em Julho de 2022, movimentando mais de 500 pessoas nos dias de abertura e encerramento. Além dos quadros expostos foi preparado um momento em que foi projetado na parede cada tela enquanto tocava a música que o inspirou, abrindo assim mais uma camada sensorial para aqueles que experenciaram a primeira onda dessa manifestação. 

Recebemos na última quarta-feira, 16, o lançamento de um single que inicia o trajeto para o encontro do disco que promete ser único. O single "Selva" é o som que abre os caminhos para este momento, sendo uma canção que emerge das trincheiras de uma guerra silenciosa. O som chega de modo especial, trazendo participação de Nega Gizza e DJ Nyack, onde encontramos uma verdadeira conexão de gerações mantendo a essência do Hip Hop viva, Selva é um rap com Scratches e rimas agressivas, trazendo muita classe em sua composição. 

A música tem introdução realizada pela voz de Nega Gizza, com instrumental assinado por Asiri, além de scratches na conta de DJ Nyack. O som ainda tem captação por Felipe, via Estúdio Nave Mãe, com mixagem e masterização de Damien Seth. Quanto ao clipe, Higordão é o nome por trás da direção. Veja completo:

Selva já se encontra disponível nas principais plataformas de streaming. Ouça abaixo pelo Spotify:

A VISH teve a satisfação de trocar uma ideia direta com o artista, que nos revelou alguns detalhes exclusivos do lançamento e mais. Flagre o papo:

VISH: Para começar, nos fale, qual a principal visão por trás do single "Selva"?

Onni: O pensamento maior é transgredir a leitura que se tem de corpos pretos e favelados, tanto que a Gizza pontua com firmeza: "Nós não somos nada disso que tem nos atravessado há séculos", a visão é essa, a cidade enquanto selva e o capital como predador.

VISH: A composição encontrada na faixa é marcante. Nos conte mais sobre essa visão, como foi o estágio de canetar o single? 

Onni: Lembro que o Asiri fez o beat dessa enquanto se recuperava de uma operação que ele tinha feito, o ano era 2020 e na época eu estava meio que desligado da música trabalhando com outras coisas, mas determinado dia eu fiquei ouvindo uma frase sussurrada o dia inteiro, ela dizia repetidamente: "essa é pros sobreviventes" e eu sabia que era uma música pedindo licença, pois eu conhecia aquela voz e todo sentimento que sempre me toma, mas me fiz de surdo e segui meu dia, no fim da tarde liguei pro Asiri pra saber como ele estava e ele me falou que tinha feito uma base foda, até brinquei com ele dizendo que ele que ligou o botão do sussurro, então quando ele me mandou a base eu só dei licença pra toda essa força, esse rap foi o que nos deu confiança pra fazer o disco Sagrado Favelado.

VISH: Selva possui um seleto time em sua produção, como foi a realização deste processo? 

Onni: A ideia inicial era ter um feat rimando, mas a MC que queríamos não aceitou, então eu canetei o segundo verso e na sequência conseguimos a força do Nyack que ao lado de Nega Gizza e Damien Seth (que mixou a música) nos batizou no solo sagrado do Hip Hop. essa música me emociona porque é muito Hop Hop, a minha vida é pra manter essa chama acesa.

VISH: O audiovisual que acompanha o single chama atenção, como foi atuar sob a direção de Higordão e ter a presenção da Kovok crew?

Onni: O Higordão é um agente muito sagaz, por também ser da Baixada Fluminense ele conseguiu assimilar e potencializar as ideias que trocamos, ele e a Josy são muito importantes pro cinema, pra mim é uma honra ser parte da caminhada deles e sobre a Kovok esquece, pra mim é outro batizado, quem tá ligado na história do grafite sabe a importância e a excelência dessa Crew da Zona Norte do Rio de Janeiro, tanto que fiz questão de filmar alguns de seus painéis clássicos e também um ao vivo, para além de que sou amigo pessoal dos caras, então, esse registro é atemporal.

VISH: O single faz parte de seu próximo álbum. O que pode nos contar sobre o disco "Sagrado Favelado"? 

Onni: É um álbum de dupla colaboração, a primeira é que é todo produzido pelo Asiri e a segunda é com o pintor Miguel Afa, que pintou uma tela pra cada música do disco. Em Sagrado Favelado eu falo de coisas que precisava falar pra poder falar o que quero falar, me entende? aí a gente volta a fala da Gizza sobre os atravessamentos, mas isso não fala nada sobre nós e é esse sobre nós que quero encontrar, esse ponto de retomada de consciência, essa força que monta barraco, monta feira, que aquilomba, isso é Sagrado Favelado.

VISH: A parte visual nas plataformas recebe uma arte excepcional feita por Miguel Afa. De onde surgiu essa conexão artística com Miguel e o álbum visual lançado no último ano.  

Onni: Conheci o Miguel quando eu trabalhava com o Xará e criamos uma conexão de vida, tanto que ele fez a capa do EP - Onni lançado em 2017 e como disse acima ele pintou uma tela pra cada música do disco Sagrado Favelado, em 2022 realizamos uma exposição de todas as telas e também a audição do disco, aonde projetamos as telas junto das canções que as inspiraram. Foi forte pra nós viver esse processo em esfera física e agora no ano de 2023 iniciamos a manifestação digital dessa energia com Selva que abre caminhos para o disco.

VISH: Obrigado pela participação! Deixe um recado para o público que está conhecendo seu trabalho neste momento. 

Onni: Nós não somos nada disso que tem nos atravessado a séculos.

Toda essa névoa que paira sobre nós não fala nada sobre nós,

pois constantemente somos reduzidos à violência, miséria, escravidão e todos infernos possíveis.

Enquanto quem maltrata nosso solo determina nossas crianças como sementinha do mal,

mas ninguém fala que nunca vimos nosso pai e que a visita do caveirão é semanal.

Colocaram gritos e tiros em nossa semântica. 

Não, não precisamos de sânscrito pra entender que liberdade e saudade são palavras sagradas.

Então rexpeita nosso chão.

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