Ruxell comanda o primeiro single da Coletânea "MEPB", projeto reúne produtoras mulheres, trans e ritmos do submundo

 O primeiro volume da coletânea “MEPB - Música Eletrônica Plural Brasileira, vol. 1” é um desejo antigo dos produtores Ruxell —produtor de "Lady Leste", icônico álbum da drag Gloria Groove—, Flying Buff e Shavozo. Com 21 nomes de diferentes origens, regiões e biografias, a compilação celebra a diversidade da nova produção da música eletrônica brasileira. 

Misturando os diferentes sotaques de funk, batucadas, arrocha pelo Brasil com elementos da bass music, as 15 faixas do primeiro volume viajam do funk rave (como no primeiro single "Piquezin da Rave”) ao pagodão baiano reggaetoneiro de "Dale", faixa produzida pela baiana Jeska. “Apaga a Luz”, colaboração entre Flying Buff e o mexicano A-PAR cita o clássico caldeirão do Salgueiro eternizado no funk carioca e une drops característicos do EDM com o funk de São Paulo.

A coletânea dá espaço para nomes da nova geração da eletrônica brasileira como Eva do LC, produtora travesti do interior do Maranhão e para nomes conhecidos por remixes no Soundcloud como o produtor Buarky. "MEPB - Música Eletrônica Plural Brasileira, vol. 1" é também um estreitamento de laços entre as regiões do Brasil que, cada uma a seu modo, vai definindo festas locais e independentes como celeiro de fusões, entroncamento e novos talentos.

Partindo do alcance de mais de 40 milhões de streams já somados entre os produtores idealizadores, “MEPB - Música Eletrônica Plural Brasileira, vol. 1” é uma primeira amostra do que produtores de diferentes periferias do Brasil fazem a partir de suas leituras do que é música eletrônica. "Ao reconhecermos essa origem periférica, podemos desfazer a ideia de uma cena eletrônica exclusiva e homogeneizada, abrindo espaço para uma narrativa mais inclusiva e autêntica", analisa Shavozo, famoso pela sua curadoria de bass music no Soundcloud.

"A percepção de que música eletrônica é uma coisa de classe média obscureceu a verdadeira essência dessa cena, que tem suas raízes na cultura popular e preta", destaca o Flying Buff, hoje produtor responsável por mais de 10 milhões de streams nas plataformas e por trilhas sonoras para a Rede Globo e para ações da Unicef.

O primeiro single que encabeça a chegada do projeto foi lançado neste mês de setembro, trazendo a presença de Ruxell, com a obra intitulada "Piquezin da Rave", contando com a colaboração de MC PR. A estreia da faixa aconteceu através do canal da 55HZ, com arte assinada pela @hoodcoletivo. Confira abaixo:

Ouça a obra pelo Spotify: 

A VISH trocou uma breve conversa com os desenvolvedores do projeto, que revelaram alguns por trás do projeto. Flagre o papo abaixo:

Como vocês três, Ruxell, Flying Buff e Shavozo, se conectaram para trabalhar juntos na MEPB?
Shavozo: Além de termos a mesma ideologia em levar a MEPB pro mundo, acredito que conheço Ruxell e Flying Buff a mais de 10 anos, onde já trabalhamos em diversos outros projetos e shows juntos, muito antes de imaginarmos que um dia teríamos a 55HZ. em 2020 durante a pandemia, eu e Flying Buff fazíamos um festival online focado na MEPB, onde convidamos o Ruxell para tocar, a partir daí tudo começou. Hoje eu faço a linha de frente de A&R da 55HZ, buscando e trazendo mais artistas para trabalhar com a gente, assim disseminando a Música Eletrônica Plural Brasileira cada vez mais.

Como surgiu a ideia de criar a coletânea "MEPB - Música Eletrônica Plural Brasileira, Vol. 1"? Shavozo:  A ideia do álbum surgiu ao mesmo tempo que decidimos que devíamos organizar o movimento da maneira certa, trazendo um 360 através da 55HZ, assim valorizando esses artistas da maneira certa, eu já fazia isso através de outros projetos meus como o “OS BR’s Mixtape” [2015], o chart “selo Shavozo de qualidade” [2016] e o portal #MEPB [2021] focado nas notícias do movimento.

O que vocês esperam que o público entenda sobre a música eletrônica a partir dessa coletânea? 

Ruxell: É a nossa forma de dizer bem-vindo, bem-vinda. É nosso convite para que pessoas que gostam de música eletrônica possam escutar mais dos nossos artistas e, também, uma curadoria para que pessoas menos acostumadas com o grave brasileiro possam ter uma noção imediata do que se está sendo feito no Brasil, do que as pessoas estão dançando em bailes eletrônicos Brasil adentro.

Como vocês visaram a reflexão do MEPB a diversidade cultural e musical do Brasil?
Flying: Mexer com música independente é sempre um exercício constante, uma briga contra a falta de dinheiro, de auto estima e, principalmente, de vontade de fazer a nossa música periférica circular, ser ouvida, ser sentida. A diversidade está aí, o que não está aí são esforços de quem detém a narrativa de poder. Todos nós somos DJs, produtores e todos os dias, há muito tempo, sentimos em nossas carreiras essas barreiras. Acho que o começo de querer refletir sobre isso é porque tudo isso também nossa biografia, desafios e brigas que compramos ao longo desse processo de ser artista marginal.

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