A @vishmidia divulga o mais novo editorial fotográfico assinado por Gui Pagliacci (@guipagliaccizl), fotógrafo, videomaker, MC, produtor e beatmaker da ZL de São Paulo, cuja lente é marcada por um compromisso visceral com a documentação da cena underground. Inspirado por sua principal referência e parceira artística, Beca, Gui entrega um ensaio que investiga, provoca e tensiona as camadas da masculinidade contemporânea.
Intitulado “O homem algoz de si mesmo”, o editorial mergulha nas contradições do homem que encarna e simultaneamente destrói. Nas imagens que retratam uma masculinidade tóxica, a figura de um mecânico sujo de graxa representa o arquétipo do trabalhador braçal, moldado pelo estereótipo da força bruta. Esse corpo, no entanto, é confrontado por um véu branco que o sufoca, símbolo de autocuidado, pureza e sensibilidade, elementos que ele mesmo rejeita em sua busca por aceitação dentro de padrões rígidos.
Ao longo das três fotos, o editorial constrói sua narrativa e as referências visuais são diversas, como Tyler, the Creator e o álbum "Flower Boy", um marco na vulnerabilidade dentro do Hip-Hop, retratos de Frida Kahlo, com um paralelo entre a força que ele busca e a fragilidade que se recusa a compreender.
O editorial com fotos de acervo pessoal de Gui, foi disponibilizado em seu Instagram. Confira abaixo e acompanhe:
A quebra de paradigmas nos levou a ter uma conversa com Gui, que de modo exclusivo nos revelou alguns detalhes acerca da criação do editorial. Flagre o papo abaixo:
VISH: Para começar, qual foi o nome escolhido para o editorial, e qual a principal mensagem por trás do projeto?
Gui: O nome do editorial é “O homem algoz de si mesmo”.
A mensagem principal é levantar o questionamento sobre: O que realmente é ser homem? E principalmente, questionar se há uma resposta certa pra isso. Por isso na composição usei elementos fortes, alguns óbvios e outros não, sem grandes edições ou elementos extras, apenas informação ligada a mensagem.
VISH: De onde surgiu o desejo e o conceito de realizar este editorial?
Gui: O editorial nasce de uma dor antiga, traumas de infância e adolescência que hoje, mais maduro e consciente pude externar de forma crítica. Pra mim, a arte funciona desse jeito, na música, na moda e na fotografia, sempre de dentro pra fora, nem sempre nesse tom do editorial, mas sempre sincero.
Gui: O editorial nasce de uma dor antiga, traumas de infância e adolescência que hoje, mais maduro e consciente pude externar de forma crítica. Pra mim, a arte funciona desse jeito, na música, na moda e na fotografia, sempre de dentro pra fora, nem sempre nesse tom do editorial, mas sempre sincero.
Vi e convivi com o pior lado disso, sem entrar em detalhes mas presenciei o atentado contra a vida, a traição, o ego e o quanto isso pode destruir uma pessoa, uma família e várias vidas.
VISH: Vamos aprofundar, o véu branco representa pureza, autocuidado e sensibilidade, por que o personagem o encara como ameaça ou opressão, e o que isso revela sobre sua relação com sua própria vulnerabilidade?
Gui: Motivado por diversos fatores históricos, políticos e religiosos, a pureza, a sensibilidade e o autocuidado masculino são vistos de forma negativa por ser associado a feminilidade. A opressão vivida pelo personagem (1º e 2º foto) é simplesmente ele negando (mesmo sabendo que é o certo) a importância desse cuidado com si próprio, ele nadando contra a própria maré, na terceira foto, podemos reparar que o pano não está esticado mais, ou seja, não era o véu que o puxava, e sim, ele que se colocava contra o véu. Também tem o detalhe do trono de pneus que ele está sentado, que representa justamente essa “superioridade” que ele mesmo cria.
VISH: As mãos que tentam retirar o véu simbolizam um conflito interno, quais são os papéis sociais impostos aos homens que este gesto tenta questionar ou romper?
Gui: A angústia e o sufocamento é a consciência do personagem de que algo está errado e já não dá mais para conviver com isso.
Gui: Tyler construiu um público no início de sua carreira que não passou pela peneira que foi Flower Boy. Nesse álbum o Tyler, de forma bem mais aberta expôs sua fragilidade e sentimento através da sonoridade, rimas e conceito geral do álbum, um homem preto, rapper, norte americano, com o público que tinha, lançar algo dessa forma é um sinal de coragem e protesto pois fomenta debate e reacende questões importantes.
VISH: Qual é o papel dos retratos de Frida Kahlo na construção simbólica da história e o que significa o fato de o personagem carregar referências femininas que ele próprio evita compreender?
Gui: Frida é uma artista latina que além de uma história fascinante e obras incríveis representou de forma crítica e sentimental o homem latino e o machismo, ela viveu isso, e a questão com personagem é que ele vê, ele sabe que acontece, ele tem em mãos o relato de Frida (obra Diego en mi pensamento de1943) mas não basta ver, ele ao lutar para romper esse vínculo tóxico que tem com a masculinidade, tenta compreender essa dor e o impacto dos seus próprios atos na vida de outras pessoas.
VISH: De que maneira o editorial evidencia a dor gerada pela impossibilidade de ser autêntico, e como isso se relaciona com os impactos do machismo tanto na vida dos homens quanto das mulheres ao redor?
Gui: Usamos a luz, flash e a força do modelo para representar a angustia dessa luta, porque assim como não basta só não sermos racistas, precisamos também ser antirracistas, penso igual com o machismo, precisamos ser antimachistas, estudar o patriarcado, porque é a raiz do feminicídio, da LGBTQIAP+fobia, inclusive nos mata também, segundo o IBGE uma das principais causas do diagnóstico tardio (que muitas vezes é fatal) do Câncer de próstata é o preconceito com o exame, alguém preferir a morte ou o sofrimento de um câncer avançado porque um exame fere sua “masculinidade” é doentio.
VISH: E os dias de Set? Como fluiu os trabalhos em equipe e o processo de fotografar o editorial? Pode nos revelar algum detalhe?
Gui: Fizemos a montagem e finalização em um único dia. Como ainda sou CLT, planejei bastante com o Ricardo (modelo) para aproveitar o dia de folga e realizar o editorial. Ele é um amigo antigo e é mecânico, fizemos na sua própria oficina, a RDJ Garage, usamos apenas alguns bastões de LED pra auxiliar junto à luz natural e o cenário montamos com elementos da oficina.
VISH: Vamos aprofundar, o véu branco representa pureza, autocuidado e sensibilidade, por que o personagem o encara como ameaça ou opressão, e o que isso revela sobre sua relação com sua própria vulnerabilidade?
Gui: Motivado por diversos fatores históricos, políticos e religiosos, a pureza, a sensibilidade e o autocuidado masculino são vistos de forma negativa por ser associado a feminilidade. A opressão vivida pelo personagem (1º e 2º foto) é simplesmente ele negando (mesmo sabendo que é o certo) a importância desse cuidado com si próprio, ele nadando contra a própria maré, na terceira foto, podemos reparar que o pano não está esticado mais, ou seja, não era o véu que o puxava, e sim, ele que se colocava contra o véu. Também tem o detalhe do trono de pneus que ele está sentado, que representa justamente essa “superioridade” que ele mesmo cria.
VISH: As mãos que tentam retirar o véu simbolizam um conflito interno, quais são os papéis sociais impostos aos homens que este gesto tenta questionar ou romper?
Gui: A angústia e o sufocamento é a consciência do personagem de que algo está errado e já não dá mais para conviver com isso.
Esse patriarcado que vivemos a séculos moldou comportamentos meio que obrigatórios a todo homem, brutalidade, ignorância, ego e competição entre os homens em si e a posição de poder principalmente sobre as mulheres, mas também carrega o ódio a comunidade LGBTQIAP+, é uma lista gigantesca, mas podemos resumir em tudo que fere a “masculinidade tradicional”. Muitos desses pontos necessitam de uma atenção especial, pois o patriarcado sempre foi liderado por homens brancos, o que foi e ainda é mais nocivo quando focamos em homens, mulheres e LGBTQIAP+ pretxs.
VISH: Por que a referência ao álbum Flower Boy, de Tyler, the Creator, é significativa para a narrativa do editorial e como ela dialoga com a quebra da hipermasculinidade?Gui: Tyler construiu um público no início de sua carreira que não passou pela peneira que foi Flower Boy. Nesse álbum o Tyler, de forma bem mais aberta expôs sua fragilidade e sentimento através da sonoridade, rimas e conceito geral do álbum, um homem preto, rapper, norte americano, com o público que tinha, lançar algo dessa forma é um sinal de coragem e protesto pois fomenta debate e reacende questões importantes.
VISH: Qual é o papel dos retratos de Frida Kahlo na construção simbólica da história e o que significa o fato de o personagem carregar referências femininas que ele próprio evita compreender?
Gui: Frida é uma artista latina que além de uma história fascinante e obras incríveis representou de forma crítica e sentimental o homem latino e o machismo, ela viveu isso, e a questão com personagem é que ele vê, ele sabe que acontece, ele tem em mãos o relato de Frida (obra Diego en mi pensamento de1943) mas não basta ver, ele ao lutar para romper esse vínculo tóxico que tem com a masculinidade, tenta compreender essa dor e o impacto dos seus próprios atos na vida de outras pessoas.
VISH: De que maneira o editorial evidencia a dor gerada pela impossibilidade de ser autêntico, e como isso se relaciona com os impactos do machismo tanto na vida dos homens quanto das mulheres ao redor?
Gui: Usamos a luz, flash e a força do modelo para representar a angustia dessa luta, porque assim como não basta só não sermos racistas, precisamos também ser antirracistas, penso igual com o machismo, precisamos ser antimachistas, estudar o patriarcado, porque é a raiz do feminicídio, da LGBTQIAP+fobia, inclusive nos mata também, segundo o IBGE uma das principais causas do diagnóstico tardio (que muitas vezes é fatal) do Câncer de próstata é o preconceito com o exame, alguém preferir a morte ou o sofrimento de um câncer avançado porque um exame fere sua “masculinidade” é doentio.
VISH: E os dias de Set? Como fluiu os trabalhos em equipe e o processo de fotografar o editorial? Pode nos revelar algum detalhe?
Gui: Fizemos a montagem e finalização em um único dia. Como ainda sou CLT, planejei bastante com o Ricardo (modelo) para aproveitar o dia de folga e realizar o editorial. Ele é um amigo antigo e é mecânico, fizemos na sua própria oficina, a RDJ Garage, usamos apenas alguns bastões de LED pra auxiliar junto à luz natural e o cenário montamos com elementos da oficina.
VISH: Quais são as próximas novidades à caminho?
Gui: Pretendo fazer mais editoriais nesse estilo e somar isso com o audiovisual, como produzo música também quero somar essas artes para conseguir passar a mensagem cada vez melhor.
Gui: Pretendo fazer mais editoriais nesse estilo e somar isso com o audiovisual, como produzo música também quero somar essas artes para conseguir passar a mensagem cada vez melhor.
O fotógrafo Gui Pagliacci apresenta sua crítica visual com o editorial “O Homem Algoz de Si Mesmo”
Reviewed by VISH MÍDIA
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05 dezembro
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