Condecorando o mestre Sabotage



Mauro Mateus dos Santos (São Paulo, 3 de abril de 1973 - São Paulo, 24 de janeiro de 2003), mais conhecido como Sabotage, foi um cantor, compositor, rapper e ator brasileiro. Mauro, pai de 3 filhos, nasceu na Zona Sul de São Paulo, onde, depois de ter sido assaltante e gerente de tráfico de drogas, encontrou uma saída sem rap, entrando na música e percebendo o seu verdadeiro dom.

A origem do apelido Sabotage surgiu porque estava sempre a evadir-se das leis com inclmensurável êxito, como entrar em bailes, festas e boates sem permissões, e saindo ileso de inúmeras confusões. Considerado uma lenda na Zona Sul, ele inspirou vários rappers, como Rhossi, Pavilhão 9, além de ter ensinado Paulo Miklos como ser um digno malandro, no filme "O Invasor", de Beto Brant, com quem escreveu uma música. Sabotage fez um único disco solo, o 'Rap é Compromisso!' e participou de vários CDs com RZO, SP Funk e outros. Em 2016, 13 anos depois sua morte, o álbum que leva o mesmo nome do cantor foi lançado no serviço de streaming Spotify. Nele estão todas as canções feitas na semana em que o rapper foi assassinado.

Também fez parte de dois filmes, o já citado "O Invasor" e o premiado "Carandiru", além de receber vários prêmios como personalidade, revelação e outros, no Hútus, o grande festival de premiação de rap no Brasil. Morreu com 4 estrelas em 24 de janeiro de 2003. Vale ressaltar que Sabotage era o próprio compositor e cantor de suas músicas. Ele foi enterrado no cemitério do Campo Grande, no dia 25 de janeiro de 2003. Em toda sua carreira, compôs dezenas de trabalhos e alguns deles se tornaram uma espécie de hino para expor uma árdua opressão que a classe dominada sente perante a dominante. Para muitos, Sabotage é uma rica expressão da constante luta que o pobre enfrenta diariamente para viver dignamente, e isso fez com que vários outros artistas usassem suas obras como amostras, colagens e arranhões de seus trabalhos.


Vida social


Durantena adolescência, Mauro foi internado na antiga FEBEM (atual Fundação Casa) e traficante na Zona Sul de São Paulo. Com uma convivência junto ao crime na favela do Canhão, ele acabou sendo indiciado duas vezes em 1995: uma por porte ilegal de armas e outro por tráfico de drogas.

Quando era menor, ouvia a música "O Meu Guri", de Chico Buarque, e se imaginava como cantor. Em 1985, escreveu uma música e ensaiou, mas guardou para ele mesmo.

Sabotage ouvia assaz Afrika Bambaataa e Barry White, porque, como ele [Barry], Sabotage também perdeu seu irmão para o crime.

Desde pequeno tinha mania de andar com um caderno para escrever músicas. As pessoas diziam: "Você é louco! Deveria puxar carroça, pegar um papelão, jornal, levar um dinheiro pra casa" – sobretudo, após se tornar notório como rapper, elas se desculpavam: 'Meu, eu não devia ter te falado aquilo".

Sabotage sempre fez rimas, mas nunca se revelava musicalmente para ninguém. Por volta de 1988, 1989, começou a se inscrever em concursos de rap. E em um deles, no Salão Zimbabwe, conheceu Mano Brown e Ice Blue, ambos do Racionais MC's, que ficaram boquiabertos com a performance dele. Nesses concursos você não pôde ser muito contundente nas letras, mas na sua apresentação, Sabotage cantava uma música totalmente para os padrões do concurso, chamada "Na City" – e a galera não acreditava que aquele moleque tinha uma música. Negra Li, por exemplo, se apaixonou pela arte de Sabotage, que logo veio a repercutir no rap nacional... especialmente depois de  de músicas e videoclipes, bem como uma apresentação em shows. Por conseguinteSabotage gravou seu primeiro e único disco solo, intitulado "Rap é Compromisso!", gravado pelo selo Cosa Nostra, o mesmo que lançou o disco "Sobrevivendo no Inferno", dos Racionais MC's.

O lançamento do seu primeiro álbum e as participações em shows, sobretudo nos do RZO, renderam ao rapper o convite para atuar em filmes do cinema nacional e, com isso, ter seu trabalho apreciado e reconhecido por um público ainda maior. Ao todo, foram dois os filmes em que Sabotage fez atuações: "O invasor", de Beto Brant, e "Carandiru", de Hector Babenco. No filme "O invasor", Sabotage fez parte da equipe do filme desempenhando três funções distintas. Participou da trilha sonora com cinco músicas (sendo três inéditas), serviu de consultor de "cultura da periferia" para moldar o personagem Anísio, interpretado pelo titã Paulo Miklos, e ainda por cima atuou no filme, interpretando ele mesmo, em uma cômica cena em que o personagem Anísio o apresenta para seus clientes "pedindo" um dinheiro para ele gravar seu CD. Já no filme "Carandiru", ele encarnou o personagem Fuinha e gravou uma das músicas da trilha sonora.

Sabotage fez diversas parcerias musicais, como "Dorobo" do BNegão; "Nem Tudo Está Perdido" do Posse Mente Zulu; Com Rappin 'Hood; "Aço Negro Na Hora do Caos" com a banda Sepultura; Com Helião, Sandrão, Negra Li, Preto Útil, KL Jay em Piri-Pac; Com Jacksom, Trilha Sonora do Gueto e Z'África Brasil em "Giria Criminal"; e com Charlie Brown Jr. em "A Banca", "Marginal Alado" e "Cantando pro Santo".


Carreira no cinema


Fez sua estréia cinematográfica em "O Invasor", do diretor Beto Brant. "Ele viu um vídeo em que eu cantava com o grupo RZO. E ele pensou 'esse cara é louco'". Mas a insanidade pareceu lógica para o diretor de "Ação Entre Amigos e Os Matadores", que convocou Sabotage para uma entrevista. Durante a conversa, Brant apresentou o músico a Paulo Miklos, cantor do Titãs que encarnou Anísio, o protagonista de O Invasor. "Eu não conseguia parar de rir da cara dele!", diz Sabotage. Apesar da descontração, o rapper fez questão de palpitar no roteiro da produção, apontando erros em relação à vida na periferia. Acabou consultor técnico e "treinador" de Miklos na área de fala e gírias. O roteiro da fita foi escrito por Brant e Renato Ciasca em parceria com o autor do livro "O Invasor", Marçal Aquino. Para Sabotage, Aquino reflete com perfeição o dia-a-dia da periferia. "Ele não esconde nada, eu acho isso muito bom! Inclusive, eu li aquele livro dele, o Faroestes e tem demasiada veracidade. Aquela placa com os tiros na capa então...", contou, lembrando que o escritor é também uma inspiração. "Eu quero chegar à idade dele do jeito que ele é. Eu o chamo de "garotão". Ele é ligado, comenta as coisas que viu. Por isso faz os livros daquele jeito".

O cantor, agora convertido a ator, passou a integrar o meio do cinema. Durante as filmagens de "O Invasor", Brant teve a prova da influência que o rapper tem na periferia. "O Beto me falou: 'Sabota, aqui no mesmo lugar onde nós fizemos este filme, já me levaram todo o equipamento antes'. Porque é assim: a periferia sabe quem está a explorá-la." Hector Babenco – diretor de "Carandiru" (baseado no livro de Dráuzio Varella, Estação Carandiru). Ele veio a conhecer Sabotage durante as filmagens de O Invasor, o diretor comentou com Brant sobre um preso condenado a 29 anos de cadeia, o Velho Monarca. Com a descrição, descobriram que ele era tio de Sabotage. "A mesma idade que eu tenho aqui [29 anos], ele vai passar lá [na cadeia]", lembra o rapper. Contato estabelecido, ficou determinado que o artista interpretaria o personagem Fuinha, além de cuidar das músicas para a trilha sonora do filme e do making of. E a parceria com Babenco foi além, gerando, inclusive, uma música. "Imagina ele falando pra mim 'águas turvas', com aquele espanhol! Para pôr isso numa rima foi foda, mas ficou muito classe!". Em "Carandiru", Sabotage também voltou a atuar como consultor técnico. Foi ele quem conseguiu os figurantes para as cenas que exigiam um número grande de pessoas.


Morte


Era manhã do dia 24 de janeiro de 2003, na altura do número 1800 da avenida Abrão de Morais, no bairro Saúde, perto de sua casa, Zona Sul de São Paulo, quando Sabotage levou sua mulher, Maria Dalva da Rocha Viana, ao ponto de ônibus. Na despedida, disse à esposa que iria para o Fórum Social Mundial de 2003, em Porto Alegre. Após entrar no carro, segundo testemunhas, foi abordado por um traficante que disparou quatro vezes. Sabotage foi atingido com dois tiros na coluna vertebral, enquanto os outros dois atingiram sua mandíbula e sua cabeça. O rapper foi encontrado ao lado de seu carro, às 5h50. Ao seu lado foi encontrada uma máscara preta. Ele chegou a ser reanimado por 30 minutos no Hospital São Paulo, mas, devido ao estado considerado gravíssimo, não resistiu. Especulações sobre o assassinato apontam várias causas. Entre elas, o envolvimento do rapper com o mundo do crime como uma possível razão para o ocorrido. Seus amigos e familiares, no entanto, não concordam com essa hipótese, visto que Sabotage desistiu da bandidagem 10 anos antes de sua morte. O enterro ocorreu no dia 25 de janeiro de 2003, onde a esposa do rapper, Dalva, não permitiu a entrada da imprensa.

Sabota", como também era chamado, nunca escondeu de ninguém seu envolvimento com os atos ilícitos no passado de sua vida. Em depoimentos à Revista MTV de agosto de 2002, o rapper alegou: "Moro na favela desde os 2 anos e, dos 8 aos 19, andei no crime que nem louco. Saí por causa de Deus, porque polícia não intimidava, tapa na orelha só deixa a criança mais nervosa."

Sabotage estava numa fase tranquila de sua vida e não possuía inimigos quando foi morto.
Na comunidade do Boqueirão, no bairro Jardim da Saúde, em São Paulo, Sabotage viveu os últimos três anos de sua vida com seus filhos, Wanderson do Santos e Tamires do Santos.

Fonte: Wikipedia