Passado, presente e futuro se encontram no som de Mau Maioli


Entre as tantas atribuições que despontam o artista gaúcho Mau Maioli como um valioso representante da música eletrônica nacional, a pesquisa e dinamismo certamente merecem destaque. Mas o que figura e direciona o conteúdo de hoje é a exímia qualidade de promover uma conexão entre o passado, presente e futuro em suas sonoridades — seja discotecando ou produzindo.

”Minha família sempre ouvia muita música, apesar de ninguém ser envolvido diretamente. Uma lembrança não muito feliz da minha infância foi do dia em que meu pai mandou o carro para a lavagem e colocou no lixo (sem querer, obviamente) um case de CDs que tinham um do Nevermind, do Nirvana, que eu amava, além de alguns do U2. Esse meu lado melancólico nas músicas possivelmente vem dessas referências bastante conectadas ao passado”, relembra Maioli, que nasceu em um contexto familiar em que os pais e os avós influenciaram suntuosamente.

“Além desse momento infeliz, tem um outro que guardarei comigo para sempre: o dia em que meu avô me deu o disco da Donna Summer que continha ‘I Feel Love’. Foi nesse mesmo dia que ele disse: ‘quando eu morrer, tu vem aqui e escolhe os discos que quiser pra ti, ta bom?’. Eis que infelizmente esse dia chegou, mas ele deixou muitos presentes, um deles sendo o primeiro álbum do New Order, que provavelmente tenha sido o disco que mais me influenciou até hoje", completa Maioli.

Com tantas influências em um contexto sonoro tão nutritivo, não levou muito tempo para que o gosto pela música fosse elevado para outras instâncias. Mau desenvolveu em um primeiro momento o amor pelo piano, o que o inseriu no mercado da música profissionalmente em 2011, com singelos 14 anos.

“Sempre me diverti muito fazendo o que faço. Foi realmente tudo muito espontâneo. E acho que essa espontaneidade que me mantém ativo desde os 14 anos até hoje, sendo sincero comigo mesmo no que eu quero e onde quero estar”, reflete o gaúcho.

Em meados de 2014, Mau Maioli adotou de vez as sonoridades sintéticas para guiá-lo profissionalmente pela jornada da música. Permeando as sonoridades do Disco, House e Techno, logo em seus primeiros passos, foi abraçado pela cena sulista que catapultou o jovem ao contexto nacional.

 
No mesmo ano, também começou a desenvolver o tato para a produção musical, ao passo que três anos adiante, a virada de chave aconteceria. “Lembro que dava os primeiros passos, cada descoberta era gigantesca e Parallax surgiu das milhares de tentativas e erros que ainda continuo dando. Criar esse EP e ver ele ganhando uma repercussão positiva foi um sinal de que eu posso expressar o que sinto”, recorda o produtor.

Parallax foi lançado em 2017 pela Prisma Techno

Com o amadurecimento e aperfeiçoamento, organicamente Maioli retornou às suas raízes musicais e passou a beber abundantemente de fontes musicais dos anos 70, 80 e 90, elevando as técnicas de discotecagem e produção musical à permear a esfera da Indie Dance — mudança de rota que ganhou força no período de 2020 e você pode conferir um dos lançamentos que marcaram a transição abaixo.

“Eu me encontrei nas sonoridades do Indie Dance, pois através dela eu consigo conectar minhas criações de estúdio com minhas apresentações ao vivo. Como eu nunca me limitei na hora de discotecar (onde gosto de passar do House ao Techno e todas as suas vertentes) no Indie Dance eu descobri mais uma porta de conexão para criar diferentes histórias. Posso criar sons mais lentos e experimentais e sons de pista com uma mesma estética que lembra os anos 70, 80 e 90, mas com a minha identidade inserida ali”, contextualiza Mau, que hoje é apontado não só como um grande construtor de camadas sintéticas melódicas, como também, um pontualíssimo pesquisador e selecionador.


É destrinchando a jornada musical de Mau Maioli que não só sua complexidade musical fica evidenciada, mas também, o que o conduz a tamanha habilidade para sobrepor passado, presente e futuro de forma tão harmônica. Deleite-se em uma das playlists criadas pelo artista gaúcho que refletem muito bem suas sonoridades atemporais.

 

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Texto por Isabela Junqueira